O cara perfeito
Em que lugar excêntrico andava minha cabeça, como se ela pousasse por muito tempo no corriqueiro, quando acreditei ser prudente estudar pensadores. Pensadores econômicos. Pessoas que deviam sonhar com cifras e acordar com percentagens na cabeça. Por que razão imaginei que eu, Mariana, aquela comprida, deveria ter uma professora cujo maior ídolo se chama Ricardo. Se fosse o Paulo Ricardo seria até mais interessante. Ele usa jaqueta de couro e tem passe livre no Big Brother. Mas, não. O ídolo da professora loira que tem problemas nas cordas vocais, tadinha, é o David Ricardo.
Não, não tentei fazer uma frase de efeito. Dizer que o ídolo da vida de uma pessoa é o David Ricardo não faz uouu, eu sei. Se fosse o Capitão Nascimento ou o Victor & Léo (uma dupla = uma pessoa) valeria mais. Ninguém sabe quem é David Ricaaaaardo. E quem sabe quem é não imagina o economista escocês como norteador dos sonhos de ninguém.
Mas ele permeia os sonhos dela.
Tanto que ela repete efusivamente isso em toda aula. Inclusive antes, no meio e durante a chamada. Por que raios estava eu naquele auditório? Onde já se viu estudar agápé. Sim, agápé é como se chama História do Pensamento Econômico no prédio da economia. Simples, H-P-E ou agápé, mais uma pra lista infinita de créditos necessários para se vestir uma toga. Maldita hora. Maldita cadeira. Malditos pensadores. Maldito ordenamento. Malditos porquês. Maldita chamada. Malditos homens...
- Pedro Perfeito.
Zupt, ergui a cabeça e virei para o colega do lado. Precisava me certificar. Num lugar onde o Ricaaaaardo é ídolo e a Teoria das Nações (oi?) é leitura de férias, tudo pode acontecer. Mas o menino loiro assentiu com a cabeça e cochichou: ele não veio hoje.
Deus é pai e é lindo ver uma quase-jornalista encontrando um porquê. Bendita seja a hora em que o insano desejo jornalístico de encontrar razões para tudo e todos foi concebido e entrei naquele auditório.
P-E-R-F-E-I-T-O, Pedro.
Quem foi mesmo que disse que jamais mudaria de nome quando casasse?
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