quarta-feira, 26 de agosto de 2009

As Relações Públicas e a autopromoção

As Relações Públicas e a autopromoção

Como eu estudo em uma universidade pública paga por todos os contribuintes, devo satisfações à sociedade. Tenho o dever de mostrar que estou fazendo bom uso da minha vaga duramente conquistada. Assim, aqui estou para provar que não fui somente aprovada com A na cadeira "Teorias das Relações Públicas". Dentro dos conceitos de divulgação e promoção de um produto/marca, também se pode encaixar a autopromoção, não? Espero que sim.
Reativo, então, o Rúcula, com uma conquista minha. Que, obviamente, se é minha, é do Rúcula.
Em breve, mais do bom e velho Jornalismo. E com azeite de oliva. Agora espanhol, é claro.
Eis, então, o resultado do concurso Primeira Pauta promovido pelo jornal Zero Hora.



Primeira Pauta: estudante da UFRGS supera mais de 200 candidatos
Mariana Müller acompanhará todas as fases de uma grande reportagem


A vencedora do concurso Primeira Pauta é uma estudante do 5º semestre de Jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Nascida há 20 anos em Cruz Alta, Mariana Scalabrin Müller flertou com o balé clássico, sonhou ser top model e seguir os passos da gaúcha Gisele Bündchen, mas optou pelo Jornalismo.

Como prêmio do Primeira Pauta, Mariana acompanhará todas as fases de uma grande reportagem: da definição da pauta ao trabalho de campo, a parte que envolve aventura e a emoção de conhecer lugares e pessoas, à redação dos textos e edição das fotos, acabando na edição das páginas. A estudante relatará suas experiências em forma de diário, que será publicado com a reportagem de ZH impressa e zerohora.com.

Além de Mariana, Daniel F. Gruber, 24 anos (Feevale), Gabriela Schuch, 19 anos (Unisinos), Luísa Martins, 22 anos (UCPel), e Rodrigo Rodrigues, 22 anos (Unisinos), participaram da etapa final do concurso, que também marca os 45 anos de Zero Hora.

Filha do comerciante Alfredo Müller e da enfermeira Regina Müller, a jovem de Cruz Alta trocou o Interior por Porto Alegre há dois anos. Com 1m79cm, poderia transitar pelas passarelas, mas desistiu quando um caçador de talentos olhou para ela e sentenciou:

— Você precisa perder alguns quilos.

Mariana, que passava férias em Florianópolis, pesava 54 quilos.

— Eu disse: agora chega! Não tem cabimento. É uma coisa absurda.

Longe do mundo fashion, mergulhou nos estudos para realizar uma aspiração de infância:

— Desde muito pequena decidi ser jornalista.

Apaixonada por literatura, Mariana viajava nas histórias de Ziraldo, Monteiro Lobato e Pedro Bandeira desde a adolescência. Se professores do Colégio Franciscano Santíssima Trindade pedissem para ler um entre cinco livros, Mariana lia os cinco. Se recomendassem uma redação por mês, a garota de olhos azuis e cabelos ondulados escrevia quatro.

Na Capital, onde divide apartamento com uma conterrânea, tem uma bolsa remunerada no Museu da UFRGS. Nas horas livres, vai a cafés, visita livrarias e frequenta cinemas. Nas férias de inverno, ganhou dos pais uma viagem para a Europa. Fez curso de espanhol em Barcelona, conheceu Madri, Roma e Paris e exercitou o que julga ser necessário a um repórter:

— Passava horas observando o hábito e o comportamento das pessoas.

Mariana superou mais de 200 candidatos até ser selecionada por editores e repórteres do jornal. Lançado em 11 de abril, o Primeira Pauta propôs que os estudantes escrevessem sobre o seguinte tema na primeira etapa: "A reportagem que eu gostaria de ter feito". Na segunda fase, os 20 semifinalistas encararam a proposta de recontar o acidente com o avião da Air France que matou 228 pessoas em 31 de maio.

Na última etapa, Mariana e outros quatro estudantes fizeram a apuração de uma matéria na Redação do jornal, redigiram o texto e foram entrevistados por profissionais de ZH.

Ao acompanhar um fotógrafo e um repórter numa aventura que ainda desconhece, Mariana poderá começar a mostrar o que espera do jornalismo: enxergar tudo de um jeito diferente.


http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&newsID=a2611390.xml&channel=13&tipo=1§ion=Geral

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Crônica - A epidemia do dia doze

A epidemia do dia doze

Tudo fica tão lindo desde o final de maio. A vida é bela, os pássaros cantam, o céu e os shoppings centers são cor de rosa e as pessoas se amam. Casais loucamente apaixonados invadem nossas vidas num agarrar descontrolado. Aquela quantidade imensa de beijos, abraços e pulos me cansa. O rosa pink em excesso machuca minha visão. Só penso que eles gastam uma quantidade significativa de calorias se beijando, o que pode ser realmente interessante. Mais interessante ainda considerando a comilança a que estamos submetidos com o avanço do frio. Nessa época, nenhum namorado é ciumento, nenhuma namorada é chata, os guris jogam futebol até cansar e as gurias usam vestidos curtíssimos e decotados.
Não posso negar que o criador do dia doze foi muito esperto. Colocou uma data comercial entre o dia das mães e o dia dos pais justamente em meio ao frio ártico que atinge nossos ossos no início do inverno. Ossos gaúchos, é claro. O cariocas ainda devem estar surfando e provavelmente pouco foram atingidos pela invasão de corações rosa pink. Na província de São Pedro não é assim, não. Não há máscara que proteja dessa contaminação apaixonada. O cupido foi treinado pelo Duda Mendonça, só pode! Sobreviva a uma epidemia dessas.
O cupido, aliás, tem um trabalho fácil por esses dias. A maioria dos atingidos está profundamente sensibilizada com os casais das agências de publicidade, com preguiça de sair de casa e à procura de um cobertor que não seja de lã. Afinal, está frio, muito frio. As baladas já não são mais as mesmas, o vinho não anima ninguém e o ato de comer é quase compulsivo. Não restam alternativas. O cupido atinge uns coitados ou melhor, desesperados, e na mesma hora já entrega o cartãozinho de uma loja. Afinal, como deixar o amado sem presente? As criaturas nem sabem se gostam de olhar para a cara uma da outra, mas já podem ou precisam comprar um celular para falar por cinco centavos o minuto. Ou também pode ser uma roupa, um perfume, rosas vermelhas ou o ingresso para o show especial do Zezé di Camargo, por que não? A flecha estava carregada mesmo é de opções para marcar a data. Amor? Paixão? Isso o tempo resolve. Aliás, ele nem é importante nessa equação. Os novos compram algo para comprovar a existência da relação. Os antigos, para cumprir a tarefa.
Como não fui atingida por essa epidemia a la novela mexicana e prefiro meu mundo verde limão ao invés de rosa, vou fazer algo muito diferente de um jantar romântico dia doze. Nada de fondue especial para namorados ou cinema no sábado de noite. Passei ilesa sem máscara ou repelente. Posso ir para a academia queimar umas calorias ou para uma noite regada a tequila, que também esquenta. Ou ficar em casa mesmo com uma super companhia. Neruda, Carpinejar, Verissmo, todos ao alcance dos dedos e distantes das discussões de relacionamento. Nota importante: longe da panela de brigadeiro e das fotos do verão passado, por favor. Também posso comprar uma bolsa nova, já que não gastei com presente de terceiros. O risco dela ser pequena ou ter uma estampa ridícula é nulo. Meu dia doze será única e exclusivamente decidido por mim, com a interferência máxima das amigas solteiras. Posso fazer o que vier à cabeça, o que o desejo resolver. O que não posso mesmo é esquecer que dia treze é dia de Santo Antônio.



Por Mariana Müller

domingo, 24 de maio de 2009

Livros - Conexão Pampa-Nova York

Poderiam os ataques terroristas de 11 de setembro serem utilizados como recomeço ao invés de fim? Qual a ligação entre Passo da Barca e Nova York? E entre um interiorano endividado e a rede Al Qaeda? Qual a reação possível diante do telefonema de um morto pedindo socorro? O que parece claramente ficção desde a sinopse ganha traços fortes de realidade no desenrolar da novela de Tailor Diniz.
Em “Um Terrorista no Pampa” o improvável é verossímil, por mais difícil que isso possa parecer. E é a linguagem, com certeza, que rege com maestria essa relação. A história do homem endividado que decide se passar por vítima do falado atentado de 11 de setembro e depois volta atrás na decisão surpreende por ser estruturada como romance policial. Trata-se de um enredo com muita informação e criatividade. Além disso, efetivamente bem administrado.
O protagonista, Homero Mergé, não decide apenas fazer-se de morto e permanecer em Nova York, abandonando os problemas familiares e as dívidas no Brasil. Anseia reconhecimento pela morte na tragédia. Assim, ao tentar verificar com um amigo como a pacata Passo da Barca está após sua morte, um Mergé decepcionado retorna ao Rio Grande do Sul. E é essa a largada de uma trama peculiar e envolvente.
Característica comum das novelas, o livro pertence a série “Novelas Exemplares” da editora Leitura XXI, a curiosidade pelo capítulo seguinte é presença constante. O retorno de Mergé, o medo de ser assassinado, a confissão do segredo ao professor Cervante. A cada nova linha, a cada nova revelação, a trama se constrói e instiga o leitor. São muitos pontos de interrogação em meio ao palavreado e aos ditados característicos do pampa gaúcho.
Passo da Barca é pura ficção. No nome, é claro. Ela poderia ser Ijuí, Panambi, Cruz Alta, Júlio de Castilhos ou qualquer outra cidadezinha a escolha do leitor. A estrutura é especialmente verdadeira. Há a zona ou o “inferninho”, para os íntimos, um Clube Caça e Pesca, além de um barbeiro fofoqueiro. A maioria dos moradores se conhece e, normalmente, sabe até demais sobre a vida alheia. Radialista figura entre as autoridades e nomes estranhíssimos são comuns. Ou é normal encontrar um Edemertílio ou um Dilonério em Porto Alegre? Para completar, em Passo da Barca ainda há leiteiro e ruas de paralelepípedo.
Em “Um Terrorista no Pampa”, todos os detalhes são merecedores de atenção. Com um enredo quase lunático, Diniz reconstrói traços clássicos do interior com a fluidez de quem conhece. E isso contagia. É interessante enxergar a posição de outros gaúchos com vivências e conceitos tão distintos dos metropolitanos. Melhor que enxergar diferenças culturais é fazer isso sem esforço. Se há o desejo do autor de mostrar essa distância, ele, felizmente, não é claro, didático ou enfadonho. A trama policial bem amarrada carrega o leitor com carinho até o desfecho surpreendente. O que está no recheio é saboreado aos poucos. E com gosto.



Por Mariana Müller

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Ano da França no Brasil – Reflexio



Olhar francês em Porto Alegre
A origem latina dos termos reflexo e reflexão – Reflexio - batiza a exposição que estará entre abril e agosto no Santander Cultural. Parte fundamental da programação porto alegrense do Ano da França no Brasil, a mostra reúne grandes fotógrafos franceses da contemporaneidade. Catherine Rebois, Eric Rondepierre, Jean-Luc Moulène, Patrick Tosani, Suzanne Lafont e Valérie Jouve fotografam, experimentam, editam e, assim, apresentam um trabalho único aos gaúchos.
Divida em espaços que salientam a individualidade de cada artista, as fotografias e os vídeos se encarregam de colocar a singularidade nos holofotes. Em Reflexio – Imagem Contemporânea da França, o coletivo não suplanta o individual. Os trabalhos tratam de uma mesma época, a que vivemos, sob perspectivas e câmeras distintas.
A heterogeneidade marca a exposição. Há quem, por exemplo, retrate temas já visitados utilizando-se de outro olhar. É o caso do cotidiano de Valérie Jouve, dos encaixes imperfeitos dos corpos de Catherine Rebois e da solidão de Suzanne Lafond. Mouléne registra pixações em túneis franceses para mostrar o que não é visto, mas está disponível aos olhos. Rondepierre, no entanto, não fotografa a partir do real, busca outras midias, como o cinema. Tosani tem gosto pelo inusitado. Com ele, unhas ganham super ampliação e um homem mistura-se a textos em braile.
Montada exclusivamente para vir à Porto Alegre, sob o comando de Ligia Canongia, crítica e curadora indepente carioca que morou na França por nove anos, tem a inovação e a aproximação como norte. “Em relação a arte, nosso país ainda tem traços xenófobos. Há um afastamento do que se produz no mundo que precisa ser reduzido”, esclarece a curadora. Reflexio traz o contemporâneo em destaque como linguagem, como forma de pensar o mundo e a própria arte.




O encaixe imperfeito da obra de Catherine Rebois



O fotógrafo Rondepierre e suas obras multimidiais.


Por Mariana Müller
Fotos Renan Sander

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Adaptações - Uma igual no Divã

Uma igual no Divã

Muito se fala sobre a obra da gaúcha Martha Medeiros. Também muito se fala sobre o cinema brasileiro que gera grandes bilheterias. Clichê, lugar comum, aquilo que se deseja ouvir, entretenimento puro, enfim. O filme Divã, que estreou dia 17 nos cinemas, pode, sim, arrecadar alguns desses adjetivos. Entretanto, há um forte argumento a seu favor: a identidade.
Baseado no livro homônimo da escritora gaúcha Martha Medeiros, lançado em 2002 e dirigido por José Alvarenga Jr., diretor que foi reconhecido pela série Os Normais, o filme está muito próximo do livro. Lilia Cabral, que interpreta Mercedes, uma quarentona que decide buscar na psicanálise respostas para uma vida que ela considera ‘feliz demais’ repete trechos do livro com pouca edição e a propriedade de uma grande atriz. Para quem leu, fica aquela sensação de revival.
Lilia tem efetivamente intimidade com o texto de Martha. Ela interpretou o Divã no teatro por três anos, alcançando a marca de 175 mil espectadores. Segundo a atriz, a linguagem usada no teatro sofreu grandes adaptações até chegar às telonas, o que era de se esperar. Entre cenas hilárias e outras nem tanto, é possível dizer que Lilia encontrou o tom. Destaque, também, para a interpretação de José Mayer, o marido, e Alexandra Richter, a melhor amiga. Muito do que é narrado no livro está bem montado no filme e, embora haja um ar de superficialidade, existe, sim, reflexão. O medo que a protagonista tem do seu “happy end” provoca o público, não só o feminino. Afinal, insatisfação, dúvida, medo e inconstância não são características exclusivas das mulheres.
O grande mérito da montagem, com certeza, é a identificação. Mercedes é claramente real. Pode ser uma irmã, uma mãe, uma prima, uma filha, uma amiga. São muitas mulheres. É uma personagem que, dessa forma, une características diversas, tornando-se, por vezes, quase caricata. No entanto, aprovando ou não o texto de Martha não é possível afirmar com firmeza que não havia uma conhecida em Mercedes. Uma conhecida ou você mesma. E isso cativa.
O público que assiste pode ter ido até o cinema em busca apenas do riso, o falado entretenimento puro. Vai encontrar isso. Há cenas muito bem elaboradas e efetivamente divertidas e outras com humor fraco, que poderiam ter sido desprezadas. Porém, o espectador vai ir, de uma forma ou outra, além do riso. Talvez não encontre a reflexão proposta nas entrelinhas, não repense nada na sua vida, mas vai ir além. O filme não propõe moral alguma, e, ainda assim, se faz entender.
Quem assiste, enxerga uma igual no Divã. Entre qualidades e defeitos, dúvidas e certezas, há um pouco de cada um de nós em Mercedes. Não há como negar. E isso é ir além. Então, que cada um identifique-se como pode, consegue ou deseja. O Divã de Martha, Lilia e Alvarenga Jr. está aberto. É só sentar e acomodar-se.

Fútil, superficial ou o adjetivo que preferirem, eu me encontrei aqui. “Uma unha quebrada e a gente se ferra”, reclama Mercedes.
Fica o trecho célebre do livro, altamente difundido na Internet.

“Sempre desprezei as coisas mornas, as coisas que não provocam ódio nem paixão, as coisas definidas como mais ou menos. Um filme mais ou menos, um livro mais ou menos. Tudo perda de tempo. Viver tem que ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados, e com eles sua raiva, seu orgulho, seu asco, sua adoração ou seu desprezo. O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia.”

News - A largada da FestiPOA

A largada da FestiPOA

Em sua segunda edição, a FestiPoa Literária - Festa Literária de Porto Alegre iniciou hoje com conversa e lançamento de antologia na livraria Letras e Cia. Além do autor homenageado desta edição, Luis Fernando Verissimo, estavam presentes os autores Fabrício Carpinejar, Leonardo Marona e Reginaldo Pujol Filho. Num bate-papo descontraído e próximo do público, que lotou o café da livraria, os autores falaram sobre humor, crônicas, poesias e, claro, Verissimo. O livro "O melhor da festa", lançado hoje reúne textos de 36 autores que participaram da Festa em 2008.
Na semana em que se comemora o Dia Nacional do Livro, 23 de abril, a FestiPOA, evento de artes e literatura, promete uma maratona para os amantes dos livros. Estão programados saraus, palestras, espetáculos musicais e rodas de discussão e leitura em diversas partes da capital. Uma promoção do jornal Vaia, juntamente com as livrarias Letras e Cia e Palavraria, a Festa ganhou o apoio da Câmara Riograndense do Livro.
O grande objetivo, segundo os idealizadores é fazer com que o público que aprecia literatura tenha atividades também fora do período da Feira do Livro. Fernando Ramos, editor do Vaia, acredita que há espaço. "Grande parte do público que lota a Feira do Livro em novembro permanece na cidade durante o ano", acrescenta. Carpinejar elogia, "O nome Festa já é ótimo, tende a celebração".
As atividades se estendem até o dia 25 e o acesso do público é gratuito. Para conferir a programação completa, basta acessar o site www.artistasgauchos.com.br/festipoaliteraria.


Por Mariana Müller

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Tamanho XG - As grandes reportagens

Tamanho XG - O espaço do Rúcula para as grandes reportagens

Permissão para fazer nada




Conceito desevolvido por gaúcho valoriza a importância de se desenvolver o hábito de parar



Fazer nada também é aproveitar o tempo. A frase soa estranho num mundo em que o tempo está diretamente relacionado com dinheiro e produtividade. A palavra nadismo, então, surpreende. Idealizado pelo consultor criativo gaúcho Marcelo Bohrer, o conceito valoriza a importância de momentos sem compromissos ou cobranças visando qualidade de vida. “É preciso reaprender a parar, praticando nadismo sem culpa”, salienta.
A raiz do conceito está na vivência de Bohrer. Trabalhando mais de doze horas por dia, sentiu na pele os efeitos do estresse. Em 2003, sofreu um burnout, colapso físico e mental por excesso de trabalho, que o levou para o hospital. “Meu corpo já dava sinais de estar no limite, mas como a maioria, resisti em parar”, comenta. Intrigado com a relação entre o tempo e a qualidade de vida em uma sociedade alucinada, partiu para a experiência que daria origem ao conceito do nadismo. Em Londres propôs em meio a Liverpool Street, movimentada estação de metrô, que os pedestres aprendessem a fazer nada por dez minutos ao custo de dez libras. Houve incentivos e elogios à idéia, mas ninguém parou. “Elas tinham dez libras, mas não dez minutos”, conclui. Seria preciso ir além. Para fazer com que as pessoas se permitissem parar, surgiu a proposta do Clube de Nadismo. Nele são realizados encontros onde os associados reúnem-se para desfrutar quarenta e cinco minutos de puro ócio em belos parques. Com uma “atividade” oficial e horário marcado na agenda, o ato de parar é justificado e, então, aproveitado sem qualquer sentimento de tempo perdido ou culpa. O Clube legitima a importância do não-fazer em meio a um cotidiano atribulado.
Hoje, já são mais de cinco mil sócios espalhados pelo Brasil e pelo mundo que tem como símbolo o cubo branco. É também o cubo branco, que representa o vazio, a marca nos locais dos encontros nas mais diferentes cidades. Em Agosto de 2008, ocorreram os primeiros eventos internacionais em Londres e Munique. A próxima edição deve ocorrer em Nova York no início de 2009. Lá, os sócios desfrutarão de momentos de nadismo em pleno Central Park. Embora o criador acredite que os encontros proporcionem um astral de serenidade propício para os ansiosos, a idéia é que, com o tempo, os sócios consigam inserir pequenas pausas para a prática do nadismo no seu cotidiano. “A proposta é que se adote o hábito de parar de vez em quando para fazer nada. Dez minutos já podem ajudar”, esclarece. A psicóloga e doutora em “Ócio e Potencial Humano” pela Universidade de Deusto na Espanha, Ieda Rhoden apóia o movimento, “É preciso ensinar a parar, este é o valor da proposta”. Tatiana Jacobsohn, 23 anos, sócia do clube, acredita que numa sociedade em que cada vez mais as pessoas querem ter tudo, o que realmente precisam, muitas vezes é “um pouco de nada”.
Para aqueles que não são adeptos da idéia, o difícil parece ser compreender o que é exatamente fazer nada. Nos encontros do Clube, os sócios recebem tapetes e acomodam-se na grama. É preciso não ter pensamentos produtivos, apenas relaxar. “Não tem propósito. Toda a atividade que a pessoa desenvolva com um objetivo definido não pode ser considerada nadismo”, esclarece o fundador do clube. Assim, dormir, assistir televisão ou conversar estão fora de questão. Praticar o nadismo é dedicar-se exclusivamente a fazer nada aproveitando o tempo livre e descompromissado.
Em 2008, Bohrer lançou um livro que esclarece por completo o nadismo e ensina, passo a passo, como fazer nada. Nadismo – Uma Revolução Sem Fazer Nada (Editora MegaLivro, 165 páginas, preço médio R$30, 00) faz o leitor compreender a importância de inserir pequenos momentos de ócio em sua rotina através do conceito revolucionário de que fazer nada também pode ser uma forma de aproveitar o tempo com qualidade. Há, ainda, as quatro diretrizes (Stopnjoy; Entregue-se; Sossegue; Observe.) que auxiliam no sucesso da prática. “Me dei conta de que o ato de fazer nada estava banido da cultura contemporânea como se fosse um pecado mortal. A proposta é que se escolha, às vezes, fazer nada de propósito permitindo-se desfrutar desse tempo, o que é praticamente um luxo hoje”, reforça. O livro recebeu o apoio do jornalista britânico Carl Honoré, autor do best seller Devagar, que há anos trabalha em prol da melhor qualidade de vida a partir da boa administração do tempo.
Em meio a vida corrida, ao estresse e as cobranças excessivas da nossa sociedade, o nadismo surge como uma outra possibilidade para os que visam uma vida com qualidade. “É a permissão para parar, foi criado para abrir uma brecha, dar a oportunidade. Para subverter o sistema”. Ainda segue na contramão dos valores que hoje nos sustentam e que fazem com que quase 70% dos brasileiros sofram de estresse. No entanto, o número de sócios do Clube, basta entrar no site (www.clubedenadismo.com.br) e associar-se gratuitamente, cresce a cada dia. A palavra que hoje ainda soa estranho aos ouvidos ansiosos e estressados – nadismo- começa a ser compreendida como prática que visa, principalmente, o bem viver. O consultor criativo sintetiza, “As pessoas tem o direito de ter uma vida saudável e com qualidade. Elas tem o direito de parar”.


Por Mariana Müller

terça-feira, 14 de abril de 2009

Livros - Escale a Cordilheira

“Como qualquer mulher, Anita tinha medo de ser julgada como louca.”

Solta e sem referências, assim como está aí em cima, jamais afirmaria que o autor dessa frase é o ex-fabicano, gaúcho por vivência (ou opção?), gremista e, por vezes, barbudo, Daniel Galera.
A frase tem um certo ar de lugar comum, som repetido, palavra já dita. No entanto, é crua, fria e direta. Tenho minhas dúvidas se, nós, mulheres, admitiríamos esse medo com tanta franqueza. Analisando bem, ela é toda testosterona.
Anita é a bem construída personagem principal do novo romance de Galera. “Cordilheira” foi lançado em outubro de 2008 e é o primeiro do projeto Amores Expressos. A série que levou escritores para lugares distintos do globo para que escrevessem uma história de amor e arrancou críticas de todas as espécies aterrissou Galera em Buenos Aires. É na capital porteña que a jovem escritora paulistana, Anita, vive sua estória.
O romance não é exatamente uma história de amor, como pretendia inicialmente o Amores Expressos. Ele caminha entre as certezas e as incertezas de Anita. Entre o que o mundo espera dela – que continue a escrever - e o que ela deseja: um filho. Na verdade, a juventude e suas incertezas é um tema recorrente na obra de Galera. “Até o dia em que o cão morreu”, adaptado para o cinema por Beto Brant, e o excelente “Mãos de Cavalo” também levantam as expectativas, ou a falta delas, os medos e as certezas que atingem as cabeças de quem está entre os vinte ou trinta anos. O grande mérito, acredito, não é apenas levantar essas questões. É fazê-las com verdade. Com uma narrativa bem estruturada e sem “papas na língua”- por vezes tenho a sensação de ouvir um amigo da faculdade falando- os personagens efetivamente parecem reais. Há verossimilhança no texto de Galera. Também há loucura, claro, e não é pouca. Contudo, a loucura é apenas uma pimenta na dose certa, engrandece o prato. A sutileza do capítulo inicial, por exemplo, estrutura a vida da personagem de uma forma única.
Em comparação com as obras anteriores, o romance detona o esforço do autor em dar voz a uma personagem feminina. Os homens sempre foram, no mínimo, maioria em seus textos. Agora há Anita e o seu útero (como ela fala nele!) e fala na terceira pessoa do singular, outra novidade. Nada do conhecido “tu vai”, retrato fiel do cotidiano gaúcho e, de certa forma, uma marca em seus outros livros.
Em meio ao “vai-não-vai” da jovem, o autor destaca um tema interessante para o debate: a distância entre ficção e realidade. A relação dos autores com suas obras é discutida à medida que a personagem se envolve com um grupo, digamos, excêntrico, de autores argentinos. A escalada até o topo do Ushuaia com Anita e Galera é instigante e prazerosa. Flui. Fica um trecho.

“Atribuir um propósito superior a um lance qualquer na vida é construir uma ficção muito pessoal. Dar sentido ao mundo é um ato criativo. Uma visão de mundo é uma narrativa.”

Por Mariana Müller

terça-feira, 31 de março de 2009

Jornalismo com azeite de oliva

A folha de rúcula carrega um amargo inconfundível, vitaminas importantes e uma peculiar tendência ao dualismo. O amor a leva para onde houver espaço, de pratos sofisticados a simples sanduíches. Enquanto seu oposto, a tira de cena por completo. São apenas duas opções.

O Jornalismo aproxima-se da rúcula.

Há o amargo que desnuda a realidade cruel, que transforma o fato em espetáculo, que faz seguir a linha editorial e, também, aquele que consome os finais de semana. De uma forma ou de outra, convive-se com o azedo.

Mas, ainda assim, há o amor. E os apaixonados não são poucos. Seres que não desgrudam dos microfones, gravadores e blocos onde quer que estejam. Caçam a melhor resposta, a melhor fonte ou a melhor posição geográfica para, enfim, aproximar-se da verdade.

Não há meio termo. Os apaixonados respiram Jornalismo. Os demais, distanciam-se dele.

Apaixonada, a Rúcula Revista se apresenta. Disposta a ir além da salada, experimentar diversos formatos, até onde houver espaço. Unindo a teoria recente de cabeças universitárias que ainda dão bom dia ao mercado com o amor ao bloquinho. Desafiada a transformar o amargo corriqueiro em informação com qualidade, seja qual for o tema.

A Rúcula é mix, salada mista e verdinha. Nada de estereótipos, por favor. Cabe comportamento, opinião, política ( a UFRGS não é uma sigla à toa), história, atualidades, meio ambiente, cultura (um pouco de ar!) e, por que não, moda? Enterramos a era do preconceito, contudo, não dispensamos um cuidado extra.

Que venha o azeite de oliva!

É trabalho, é amargo, é qualidade e é paixão. É rúcula.

Rúcula Revista. Jornalismo com azeite de oliva.

Bon apetit!