sexta-feira, 12 de junho de 2009

Crônica - A epidemia do dia doze

A epidemia do dia doze

Tudo fica tão lindo desde o final de maio. A vida é bela, os pássaros cantam, o céu e os shoppings centers são cor de rosa e as pessoas se amam. Casais loucamente apaixonados invadem nossas vidas num agarrar descontrolado. Aquela quantidade imensa de beijos, abraços e pulos me cansa. O rosa pink em excesso machuca minha visão. Só penso que eles gastam uma quantidade significativa de calorias se beijando, o que pode ser realmente interessante. Mais interessante ainda considerando a comilança a que estamos submetidos com o avanço do frio. Nessa época, nenhum namorado é ciumento, nenhuma namorada é chata, os guris jogam futebol até cansar e as gurias usam vestidos curtíssimos e decotados.
Não posso negar que o criador do dia doze foi muito esperto. Colocou uma data comercial entre o dia das mães e o dia dos pais justamente em meio ao frio ártico que atinge nossos ossos no início do inverno. Ossos gaúchos, é claro. O cariocas ainda devem estar surfando e provavelmente pouco foram atingidos pela invasão de corações rosa pink. Na província de São Pedro não é assim, não. Não há máscara que proteja dessa contaminação apaixonada. O cupido foi treinado pelo Duda Mendonça, só pode! Sobreviva a uma epidemia dessas.
O cupido, aliás, tem um trabalho fácil por esses dias. A maioria dos atingidos está profundamente sensibilizada com os casais das agências de publicidade, com preguiça de sair de casa e à procura de um cobertor que não seja de lã. Afinal, está frio, muito frio. As baladas já não são mais as mesmas, o vinho não anima ninguém e o ato de comer é quase compulsivo. Não restam alternativas. O cupido atinge uns coitados ou melhor, desesperados, e na mesma hora já entrega o cartãozinho de uma loja. Afinal, como deixar o amado sem presente? As criaturas nem sabem se gostam de olhar para a cara uma da outra, mas já podem ou precisam comprar um celular para falar por cinco centavos o minuto. Ou também pode ser uma roupa, um perfume, rosas vermelhas ou o ingresso para o show especial do Zezé di Camargo, por que não? A flecha estava carregada mesmo é de opções para marcar a data. Amor? Paixão? Isso o tempo resolve. Aliás, ele nem é importante nessa equação. Os novos compram algo para comprovar a existência da relação. Os antigos, para cumprir a tarefa.
Como não fui atingida por essa epidemia a la novela mexicana e prefiro meu mundo verde limão ao invés de rosa, vou fazer algo muito diferente de um jantar romântico dia doze. Nada de fondue especial para namorados ou cinema no sábado de noite. Passei ilesa sem máscara ou repelente. Posso ir para a academia queimar umas calorias ou para uma noite regada a tequila, que também esquenta. Ou ficar em casa mesmo com uma super companhia. Neruda, Carpinejar, Verissmo, todos ao alcance dos dedos e distantes das discussões de relacionamento. Nota importante: longe da panela de brigadeiro e das fotos do verão passado, por favor. Também posso comprar uma bolsa nova, já que não gastei com presente de terceiros. O risco dela ser pequena ou ter uma estampa ridícula é nulo. Meu dia doze será única e exclusivamente decidido por mim, com a interferência máxima das amigas solteiras. Posso fazer o que vier à cabeça, o que o desejo resolver. O que não posso mesmo é esquecer que dia treze é dia de Santo Antônio.



Por Mariana Müller