Dei uma escapulida do Nosso Mundo Sustentável e invadi um terreno muito bacana lá da ZH.
Esse texto foi publicado na edição 53 do ZH Petrópolis, dia 8 de abril.
A coluna chama Eu e meu bairro e qualquer um pode escrever.
É só enviar para petropolis@zerohora.com.br
Escreve, as gurias vão adorar.
Agora, do sexto andar
Não escolhi meu apartamento pelo bairro. O meu apartamento que me escolheu, na verdade. Aterrissei em Porto Alegre como a maioria dos jovens interioranos. Pintada de bixo pela universidade federal, eu falava leitE com convicção. Não acreditava que Porto Alegre seria minha de verdade algum dia, muito menos que a região escolhida para morar faria alguma diferença.
Fui parar na Dona Eugênia porque era perto da Fabico – eu era bixo de Jornalismo na UFRGS – e um amigo o tinha liberado bem na época em que eu devia abandonar Cruz Alta. Entre tantas informações desencontradas, uma era unanimidade entre as amigas da minha mãe:
– Lá é perto do Zaffari bom.
E eu sempre questionava: então os outros são ruins?
Pensava que um hipermercado não seria tão importante na minha vida, muito menos o fato de ter um restaurante dentro dele. Foi só minha mãe voltar para o Interior, a geladeira e as prateleiras esvaziarem para eu descobrir os deleites de ter um Zaffari a duas quadras de casa.
Também descobri que era importante mesmo estar perto da Protásio Alves e da Ipiranga, ao mesmo tempo. Caminhando duas quadras, eu podia pegar um ônibus para qualquer canto da cidade. E, na maioria das vezes, apenas um ônibus era suficiente para alcançar meu destino.
De táxi, nada é muito longe lá de casa também. Conto nos dedos as vezes que gastei mais de R$ 10 ou R$ 12 em uma corrida. Cidade Baixa, Moinhos ou Iguatemi? R$ 10.
Tá, confesso, eu não vou para a Zona Sul muitas vezes. Nem de táxi nem de ônibus. Bom mesmo é ir a pé para a faculdade e, melhor ainda, poder voltar para casa rapidinho quando o professor não aparece.
A Santa Cecília que me escolheu insiste em me acordar com seu sino no domingo de manhã, mas eu perdoo. Perdoo porque adoro o risoto de funghi e o chocolate quente do restaurante do Zaffari e vivo muito mais feliz fazendo hidroginástica na Mergulhinho. Os queridos da Clem Idiomas e da Papelaria do Estudante sempre resolvem meus problemas acadêmicos, e, quando quero fugir do Zaffari, só preciso caminhar mais uma quadra e encontrar o Al Nur. Delícia.
Quando digo que o bairro me escolheu, não estou brincando. Acabo de me mudar. Agora moro no outro lado da Rua Dona Eugênia. Aluguei uma janela, não um apartamento, e estou radiante.
Nunca pensei que enxergar a minha Porto Alegre do sexto andar me faria tão bem.